domingo, 7 de setembro de 2008

Esta Vida Simples...


Meu trabalho exige que eu esteja grande parte do tempo nas ruas da grande São Paulo. Muitas vezes chego a ir de uma região a outra em poucas horas. Este contato direto com a realidade produz em mim muitas vezes indignação, alegria, espanto... Mas na maioria das vezes procuro enxergar todo aquele turbilhão de cenas cotidianas em algo que me traga coisas positivas.

É comum durante as tardes na periferia da cidade ver crianças livres, talvez um tanto abandonadas, confesso, mas soltas sem preocupação, tendo muitas vezes os objetos mais improváveis como brinquedo. Elas se divertem. Há sempre um sorriso no rosto. Uma cena que me chama muita atenção é o horário em que verdadeiros contingentes de crianças e adolescentes invadem as ruas enquanto suas mães os esperam. Elas tentam, como aves zelosas, mante-los todos por perto. Do outro lado da rua seguem aquelas que voltam do supermercado com as mãos abarrotas por pequenas sacolas. Mais adiante há sempre uma senhora que cuida das plantas, enquanto outras deitam suas filhas no colo para examinarem seus cabelos. Aos poucos a estreita rua começa a ganhar um cheiro peculiar, cheiro de refeições simples que sustentam toda uma população.

Vendo todas estas cenas penso na minha infância, época maravilhosa em que a única preocupação era ir para a escola no dia seguinte. Ah como sinto falta do aconchego daquela avó que sempre me esperava na janela e que quando eu me atrasava, um pouco que fosse, não tirava os olhos cansados do relógio da cozinha. Quando era criança ainda não era tão comum ver as mulheres trabalhando fora, por isso elas estavam sempre por perto vigiando nossas brincadeiras e nos repreendiam dizendo "Esta bola vai destruir minhas plantas!!!"

Aquela era uma vida simples, hoje me parece nostálgica. Ainda me lembro que estas mesmas mulheres quando viam se aproximar as quatro da tarde, corriam para dentro de suas casas para ajeitarem o jantar, muitas delas esperavam seus maridos. Algumas no portão, outras até mesmo na esquina. Vida de mulher simples que tinha naquele espaço chamado vila, o cenário de toda uma história. Hoje na nossa classe média, poucos estão em casa antes das oito, as mulheres trabalham cada vez mais e as crianças tem atividades diversas que as impedem de correr pela rua.

Analisando minha vida, que caminha para ser como a das mulheres a minha volta (corrida), penso nas poucas delícias da vida humilde e simples daquelas que observo pelas ruas dessa grande cidade. Creio que há uma beleza no cotidiano dessa gente e que bom que de longe posso vê-la e aprecia-la.

Todas as vezes que ouço a maravilhosa canção de Chico Buarque, cotidiano, penso nessas mulheres. Acho que esta música retrata a beleza que há nelas e na vida que elas representam. Se me garantissem que se optasse por seu uma adepta dessa vida provinciana seria cantada nos versos deste grande poeta, sim, sim eu seria mais uma delas !!!!

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