segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

200 anos de Edgar Allan Poe: um mestre dos contos

Exatamente hoje, 19 de janeiro de 2009, se comemoram os 200 anos de Edgar Allan Poe.

Conhecido por ter tido uma vida "complicada", nem mesmo sua morte deixou de acrescentar mistério à sua história. Seus contos são até hoje, fonte de inspiração para os apaixonados pelo mistério.

Em cada um, um misto de loucura, terror, sentimentos inexplicáveis, sensações impossíveis de serem descritas, prendem o leitor até a última palavra. Durante sua vida, publicou diversos livros de poesia, além de textos e contos em prosa, que foram impressos em jornais da época.

Um dos seus mais famosos contos chama-se "O Corvo". Neste poema, a figura do corvo que posua no busto de Atenas, representa a morte e seu impacto sobre o personagem, que lamente a pedra de sua amada. A ave também simboliza o pesar presente na alma do personagem principal.

Confira uma das várias traduções deste poema:
O CORVO

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais «Uma visita», eu me disse,
«está batendo a meus umbrais. É só isso e nada mais.»
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais — Essa cujo nome sabem as hostes celestiais.
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo,
«É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isso e nada mais».
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
«Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita, E a única palavra dita foi um nome cheio de ais — Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isto só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
«Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.»
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
«É o vento, e nada mais.»
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais.
Com o nome «Nunca mais».
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais Todos — todos lá se foram.
Amanhã também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
«Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais.
Era este «Nunca mais».
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais.
Com aquele «Nunca mais».
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais.
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
«Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais, Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse.
«Parte! Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
(Tradução: Fernando Pessoa)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Adoção

No dia 13 de janeiro um juiz de Ribeirão Preto (SP) concedeu a adoção definitiva de quatro crianças.....até aí nada de mais não é mesmo? Mas o que chama a atenção são os pais, estas crianças que são irmãos, foram adotadas por um casal homossexual.

João Amâncio, 35, e Edson Paulo Torres, 42, estão juntos há 17 anos e viviam com as crianças desde 2006. Com idades de 7 a 12 anos são negras e consideradas velhas, viviam em um abrigo e os únicos a quererem adotada-las foram João e Edson.

Segundo o juiz da Infância e Juventude Paulo Cesar Gentile, (que concedeu a adoção)"Não é uma adoção corriqueira, mas não encontrei nenhum óbice legal. Concedi a adoção porque criou-se laços de afetividade e as crianças estavam emocionalmente bem", afirmou Gentile.

De acordo com o casal a rotina da casa mudou, tiveram que comprar um carro maior, construir um quarto de meninas e um para os meninos. Afirmam também que as crianças melhoraram, Suellen,12, deixou de ter desmaios. Caroline, 10, que se mordia e arranhava, hoje vai bem na escola. A caçula, Beatriz, não tem mais sonos turbulentos. E Willian, 7, parou de mexer na mochila dos colegas de classe.

Bom, na visão da sociedade isso é uma violação das regras. Mas vamos pensar um pouco, são quatro crianças, negras, e já grandinhas, sabemos que para adoção muitos pais preferem bebês e de pele clara. Então é preferível que estas quatro crianças fiquem no abrigo até completar a maior idade, sendo privada de carinho e amor? Não que no abrigo elas não tenham, mas acaba sendo diferente de amor de família.

E a figura materna, como fica na cabeça das crianças?

Pois é pensei nisso também.... mas ainda sem um argumento convincente, acho válido que essas crianças sejam adotadas com todos os critérios que são usados no processo de adoção.

E você o que acha?


fonte: Folha de São Paulo

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pai vende filha nos EUA


É ainda muito comum acontecer casamentos "arranjados", em culturas orientais. A tal história da noiva prometida à um homem desde a infância. Além de interesses econômicos, essa prática revela um machismo exacerbado. É sempre a mulher que é a tal prometida, é sempre a mulher que deve se manter casta até o casamento, sendo até mesmo crime ter relações sexuais com um homem que não seja seu marido, claro, após o casamento. Já os maridos, tiveram muitas relações antes do casamento, e até mesmo durante o casamento mantém outras mulheres, além da sua(s), como objetos sexuais.

Em muitas culturas as mulheres ainda não tem voz, nem ao menos rostos, escondidas em véus, em medo. Escondidas no tal "sonho feminino", passado de geração à geração, de casar-se e dar filhos ao seu marido, de preferência, filhos homens.

Mas essa cultura não é um “privilégio” do mundo oriental, na cultura ocidental, o machismo ainda é fato, e muitas vezes, fato consumado.

Nos EUA um pai resolveu vender sua filha de 14 anos por US$ 16 mil (cerca de R$ 37 mil), cem caixas de cerveja, várias caixas de carne e outros objetos. Combinou o casamento da menina, estipulou um preço e quando não recebeu o valor estipulado chamou a polícia para o marido de sua filha, um jovem de 18 anos. Margarito de Jesus Galindo, o marido, foi detido pela polícia, por estupro presumido, e Martinez, o pai, foi levado sob suspeita de tráfico humano. A adolescente voltou para a família.

Para muitos homens as mulheres continuam a ser objetos de troca...

Pobre do homem que não enxerga que a real beleza da mulher aparece quando ela é amada e respeitada.

E pobre da mulher que é obrigada a obedecer todas as determinações de homens que nunca as vão respeitar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Globo de Ouro - prêmio póstumo

Não sou a melhor pessoa para comentar sobre cinema mas vou arriscar....dentre as cinco Rafaela Oliveira leva o Oscar para casa.

Depois que colocamos a enquete dos filmes no blog, fomos “forçadas” ( uma situação forçada incrivelmente maravilhosa) assistir os filmes indicados. Quando assisti Batman - o cavaleiro das trevas- concordei com os críticos a respeito de Heath Ledger representando loucamente o Coringa.

Ontem dia 11 de janeiro aconteceu a premiação do Globo de Ouro. Leadger acabou levando o prêmio de melhor coadjuvante. Quem o recebeu foi o diretor Christopher Nolan. A família não pode comparecer mas de acordo com a revista People, Kim Leager (pai de Heath) afirma: “Estamos muito alegres por ele. Foi maravilhoso”.

Seria injustiça alguém pensar que Leager ganhou o prêmio por já estar morto, como se fosse uma homenagem. Foi um louco e brilhante Coringa que se destacou mais que o próprio Batman. E até o cowboy do filme “o segredo de Brokeback Mountain” foi uma atuação incrível.

Faço as palavras do diretor ao receber o prêmio:

"Aceitamos esse prêmio com muita tristeza, mas também com muito orgulho. Depois da morte do Heath, ficou um vazio no cinema", disse o cineasta.

Heath Ledger morreu no dia 22 de janeiro de 2008, por uma intoxicação acidental de remédios aos 28 anos.


segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

"Faltam comida, remédios e sacos para mortos"

Por mais incrível que possa parecer, esse é o título de uma notícia que eu li hoje na internet.
Assim que coloquei os olhos nessa reportagem e comecei a ler o texto, logo um sentimento de revolta tomou conta de mim.

Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, não foram as palavras utilizadas que causaram esse sentimento, mas os fatos que levam notícias como essas a existirem.
Apanhados pelos conflitos que tomam conta do lugar onde vivem, a população de Gaza agora também sofre com a falta de ajuda. Falta essa causada não pela ausência de pessoas e organizações dispostas a socorrê-los, mas causada pela falta de caráter e humanidade daqueles que iniciaram esses conflitos.

Um boletim divulgado pela Cruz Vermelha define a situação do lugar como "caótica e extremamente perigosa". Os ataques danificaram hospitais, prédios, mesquitas, redes de água e luz, além de equipamentos (como geradores).

É claro, que "problemas" como esses já são esperados em guerras. Mas, então porque não deixar que essas pessoas sejam atendidas?????

Os combatentes têm impedido o atendimento, e médicos e voluntários já morreram. Relatos do grupo Save the Children afirmam que os ataques e embates tornaram as ações de ajuda perigosas.

E sabe quem são as mais prejudicadas nessa história? As crianças. Vivendo, ou melhor, tentado sobreviver em temperaturas que chegam à zero grau centígrados durante a noite, milhares de crianças e recém-nascidos correm o risco de morrer por hipotermia.
Ainda segundo a ONG Save the Children, as famílias são forçadas a deixar abertas as janelas para evitar que os vidros quebrem com a força dos bombardeios tornando impossível o aquecimento.

Ou seja, mais uma vez os mais frágeis, delicados e indefesos, aqueles que nem deveriam saber que o sofrimento e a maldade existem, são os que mais sofrem nesse mundo.

O mundo só poderá ter um futuro de paz, repleto de amor e alegria, se as nossas crianças forem preservadas, cuidadas e amadas. Como esperar um futuro, se aqueles que deveriam transformá-lo podem nem mesmo chegar a vivê-lo?

"De todos os presentes da natureza para a raça humana, o que é mais doce para o homem do que as crianças?" (Ernest Hemingway)

Com informações da EFE e da Reuters.