A fuga do Egito
Esta pode parecer uma história comum ao povo judeu...
Há pouco independente, em 1956, o Egito via-se em meio a um conflito com Israel - apoiado por França e Reino Unido - em razão da nacionalização do canal de Suez, feita pelo presidente Gamal Abdel Nasser. A guerra propriamente dita durou uma semana, pois houve ameaça de intervenção soviética apoiando o Egito e assim os Estados Unidos resolveram acalmar os ânimos. Em meio a Guerra Fria, os americanos não queriam lidar com mais um problema. Acontece que, se a batalha durou pouco tempo, suas consequências se alongaram por muitas décadas na vida da família Braunstein.
As ações nacionalistas de Nasser mexeram com o povo que compunha o país. Querendo manter o território apenas com legítimos estrangeiros (muçulmanos), o presidente expulsou centenas de egípcios de outras nacionalidades. Inclusive o economista Mauricio Braunstein, que trabalhava no jornal da revolução ao lado do próprio Nasser e Sadat - que mais tarde viria a ser presidente. Com nacionalidade espanhola herdada dos avós, Mauricio conseguiu rapidamente a ordem de expulsão e junto das duas filhas, esposa e um irmão, entrou na primeira lista e teve sete dias para sair do país.
Aos sete anos, sete dias
A menina esguia de olhos azuis piscina observava a mãe se desfazer das joias da família, com olhar firme e resignado de mulher forte. Aos sete anos, a caçula Clementina Aviva Braunstein, apelidada de Vivi, enfrentava a primeira reviravolta na vida, deveria sair do país em sete dias, até hoje não sabe ao certo se era por seus familiares serem judeus ou por terem nacionalidade espanhola. Poderiam levar uma pequena mala e roupa do corpo, nada além. As joias, dinheiro e outros bens, ficaram com o consulado espanhol. Fluente em francês e italiano, a família surpreendeu-se ao saber que iriam para América do Sul.
- A escolha de Brasil foi aleatória. Quando meu pai foi comprar passagem , a gente achava que a opção seria ou França ou Itália, mas ele escolheu Brasil porque na fila todo mundo falava que era o país do futuro.
O constrangimento de fugir era ainda maior por conta do raio-x que tinham de passar antes do embarque no navio. Era para saber se não haviam engolido joias ou escondido algo nos cabelos. "Meio deprimente".
O roteiro da embarcação passava pela Suíça, onde Mauricio recebeu uma carta do antigo companheiro Nasser, pedindo seu retorno. Com orgulho ferido recusou-se a voltar e isso para sempre.
- Ele disse "não volto nem agora, nem nunca mais". Ele nunca voltou e nem me deixou voltar, apesar de mais tarde eu ter trabalhado próximo ao Egito, nunca voltei.