Acho difícil observar parada, às vezes penso que presto mais atenção se estiver andando. Fiquei com um pouco de dor nas costas porque estava olhando em pé, escorada numa mureta, enquanto minhas amigas estavam sentadas. Ok, não sentei porque não quis. Tinha espaço.
Observei várias coisas e pessoas, e tive a mesma impressão que tenho todos os dias quando olho as pessoas na rua, nas estações ou pela janela do trabalho: que deve existir uma música “universal” tocando baixinho, mas tão baixinho, que ninguém pode escutar, apenas sentir, e, por isso, todos “dançam” em um compasso único, mesmo sem saber.
Digo isso porque observei um senhor fazendo entrega de bebidas. Olhava ele pegando os engradados de latinhas de Coca-Cola e preenchendo o carrinho, colocando os engradados em posições alternadas. Não deixava de imaginar como aquele senhor, que já deve trabalhar a muito tempo nessa função tão cansativa, não tinha tanta força para aquele trabalho, mas mesmo assim o fazia, empurrando o carrinho com as bebidas na direção do seu destino.
Talvez eu tenha tido a impressão de que ele era fraco porque usava óculos. É tão difícil ver pessoas fortes de óculos né? E olha que eu também uso e nem me acho tão fraca. Isso é culpa do Pernalonga.
Voltando à dança, achei estranho que ele saísse e deixasse o caminhãozinho com as portas traseiras abertas sem ninguém vigiando. Mas, na verdade, tinha muita gente olhando. Um segurança do estabelecimento estava ali perto. Bom, ficou só por alguns minutos, vestido com seu uniforme e segurando seu rádio. Saiu logo de perto. Talvez porque tenha visto tantas pessoas que achou que o lugar era seguro.
Depois de algum tempo que o senhor de óculos saiu, escutei o som das rodas do carrinho ao longe, vindo por algum caminho, que pelo som, devia ser de paralelepípedos. Sei lá.
Pensei como ele havia sido rápido. Mas aí vi que não era ele e sim outro rapaz, que me parecia menos fraco. Talvez porque não usasse óculos. E aí voltamos pra idéia da dança. Eles seguiam o ritmo deles, de uma manhã de um sábado ensolarado.
Perto do caminhão onde eles buscavam as bebidas, outro homem, gordinho, acendeu seu cigarro, depois sentou, pegou um celular e viu que nós estávamos paradas, à toa, olhando. No mínimo, ficou se perguntando o que fazíamos olhando sem falar nada. Em algum lugar, notei que pessoas conversavam. Mas não as vi e só conseguia ouvir que falavam, sem entender o que, enquanto observava o ir e vir dos entregadores.
Enquanto isso, pessoas subiam e desciam a rua, preocupadas ou não com suas vidas, sem notar o que acontecia. Até que um rapaz de camiseta preta, oriental, subiu a rua com o olhar fixo na carroceria aberta daquele caminhão sem ninguém vigiando. Ele deve ter pensado o mesmo que eu: “que coragem deixar assim”. E esse pensamento é, com certeza, reflexo dos tempos atuais. Neura! Talvez esse seja um lugar mais seguro mesmo.
Por um instante me distrai pensando nisso, mas outro rapaz desceu correndo, foi até o lugar onde todos conversavam, e logo voltou correndo e sorrindo. Não sei o que fez ou foi fazer. Sei apenas que ele estava com um colete de lã. Que calor!
Mas aí, voltei a imaginar aquela coisa da música e da dança universal. Penso nisso todos os dias e penso como deve ser observar isso lá de cima, como se olhasse um mundo em miniatura.
*Texto feito durante o curso de Redação Criativa do SJSP.
Um comentário:
Aham, daqui a pouco faz um mês q ninguém posta aqui! Faz tempo q eu não aparecia, mas voltei e quero ler coisas novas! hahahaha...
Adorei o texto!
beiijos!
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