quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Copa do Mundo no meu quintal

Se na minha infância, você chegasse no meu ouvido, como quem conta um segredo e, falasse assim: vai ter Copa do Mundo no Brasil. Eu provavelmente não acreditaria. Agora, se você dissesse: vai ter Copa do Mundo em Itaquera. Daí eu iria rir da sua cara e sair correndo pra continuar a jogar bola na ladeira da Noite Verde.

A Noite Verde é a rua onde cresci. Sim, até os 16 anos esse foi meu endereço, rua Noite Verde, Vila Carmosina - Itaquera. E por lá a rua já foi de barro, confesso que não lembro bem dessa época, mas foi. Mas depois, o grande prefeito de São Paulo, que anuncia até hoje seus feitos (colocou a Rrrrrota na rrua), fez a obra, asfaltou a Noite Verde. Essa parte da Rota também é verdade, lembro vagamente de um dos amigos de meus tios que foi morto pela polícia, lá pertinho da Noite Verde.

Esta não é uma história sobre a Noite Verde, mas também sobre ela. Futebol. Era este o meu ponto. Tenho flashes de lembranças da Copa do Mundo de 1994, ainda iria completar 5 anos quando o Brasil sagrou-se tetracampeão mundial. Lembro de um círculo de pessoas, de mãos dadas e da euforia que aquele pênalti do Baggio causou em nós. Antes disso, havia vivido a emoção do mundial do São Paulo, provavelmente, o de 93. E sabia mais sobre futebol do que é esperado de uma garotinha de 4 anos. Meus tios, adolescentes na época, me pegavam pela mão e iam mostrar aos amigos que eu sabia a escalação completa da Seleção, e não é que sabia mesmo?


De 94 ficaram os gritos de Galvão - É TETRAAAAAA, É TEEEEETRAAAAAAAA, com os quais me arrepio até hoje - e o cabelo de Carlos Valderrama, apelido infâme na peladas da rua. Já em 1998, com 9 anos, dava para partipar melhor da festa. Ajudei a pintar a rua e o clima era de total confiança. Na final, a TV foi colocada no quintal, churrasco preparado e decepção inesperada. Sentada na escada, olhava para TV atônita, via a França acabar com o sonho do Penta, diante de uma seleção mais assustada do que eu. Passado o susto, comemorei até convocação na Copa de 2002. O Penta com a redenção de Ronaldo fechou o ciclo das Copas que assisti em Itaquera.

Das edições de 2006 e 2010, um ou outro jogo mais marcante ainda estão na memória, não consigo pensar em nada afetivo. Coicidência ou não, não assisti essas Copas em Itaquera. Quer dizer, alguns jogos com os amigos, mas não vivi o clima de ver as pessoas se empolgando e a mágica acontecendo.

E agora, todos os olhares voltam-se para mais uma Copa. A Copa do Brasil! Sabemos disso há uns 7 anos, mas vê-se que a ficha não caiu, até mesmo todos os protestos (não entrando no âmbito deles) só começaram a pipocar há um ano... A minha ansiedade veio atrasada também, mas veio com tudo! Estou no clima, sonhando com jogos memoráveis e torcendo muito pelo Hexa histórico. Também bate aquele medo de vexame total. Isso focando no futebol.

Também estou muito curiosa para saber como São Paulo vai se comportar nesses dias. Tivemos uma greve de metroviários e muita gente promete protestos sem fim... Além disso, toda a dinâmica da cidade vai mudar, hoje mesmo já vi uns croatas almoçando numa padaria na Bela Cintra e uns ingleses entrando num espaço na Augusta. E é muito legal recebê-los!

Amanhã, o maior evento mundial vai acontecer em Itaquera. E é ali, nas ruas onde cresci, para onde corro sempre, em busca da família e amigos tão queridos, que milhares de pessoas vão chegar e a bola vai rolar pela primeira vez. Confesso não ter tão forte identificação com a cultura da periferia, mas minhas raízes, não posso negar, estão lá.


E amanhã, volto pra casa com muita alegria!

Um comentário:

Yuri disse...

Sensacional o seu texto. Bateu uma enorme nostalgia ao ler este texto. Lembro-me de ficar admirado com o futebol de Romário em 94; que colecionava figurinhas dos jogadores da Copa daquele mesmo ano; Da decepção de 98 e da glória em 2002. E a lembrança que guardarei com carinho para sempre é a de meu falecido pai desenhando e pintando muros e ruas, utilizando-se de toda a sua criatividade e de suas engenhocas para fazer uma verdadeira arte de rua. E sempre com a disposição e colaboração de minha mãe e dos vizinhos, é claro. Infelizmente, esse ano não teve pinturas para a Copa na rua em que moro como já era de costume há anos; mas última bandeira, desenhada e pintada por meu pai há quatro anos, permanece lá sob a guarda de uma árvore que ele mesmo ajudou a plantar. Boas lembranças :)