Entre
seus dedos passavam os ramos da plantação de trigo que de longe dava ar de visão
cinematográfica, mas de perto, um esconderijo inseguro. O sol morno do outono
incomodava seus olhos castanhos, que se fechavam numa expressão carrancuda. Ia
passando, com certa dificuldade, os ramos do trigo, o tênis surrado e o vestido amarelo
florido se camuflavam. O peso nos ombros não era só do medo, mas da bolsa
marrom transpaçada no corpo. Correu até se perder, mas queria perder-se de si
mesma, apagar dos olhos a cena que lhe fez prender muito ar no estomâgo e
correr.
Os
ramos outrora altos foram aproximando-se do chão e à sua frente, abriu-se uma
trilha. Agora o sol batia diretamente em seus cabelos negros, a pele branca
ardia vermelha, do suadouro da fuga.
Seguiu
um pouco mais, as pernas tremulas não sustentaram o corpo ao tropeçar numa
pedra, caiu ao chão, virou-se de frente, com as mãos na barriga que roncava, encarou
o céu azul, fechou os olhos de cílios grandes e chorou.
Os gritos agora começavam a ecoar em sua
mente. E logo a cena que gostaria de esquecer se abriram nítidas e lá estava
sua adorada Meg urrando de dor, deitada sob a grama verde, todos estavam
tentando ajudá-la, mas algo de estranho acontecia.
A
menina observava o desespero nos olhos de seu pai, ele deitou-se no chão e
tentava confortar Meg, enquanto os peões da fazenda corriam de um lado pro
outro, mostrando nunca terem visto algo parecido.
Ela
já havia visto, mas sem toques de terror que rondavam o momento de Meg. Olhou
fundo nos olhos negros da égua e colocou as mãos nos ouvidos ao ouvir mais alto
os relinchos de dor.
Parecia
mesmo que o parto mais esperado da fazenda, entre os dois únicos puro sangue do
lugar, estava tomando rumos inesperados. Meg, era a égua preferida da menina,
que sentia-se livre sob seu o lombo, sempre sem sela, às vezes de braços
abertos entre os ramos da plantação de soja.
Mas
agora, a égua negra de pelo escovado e crina trançada delicadamente, parecia
ter medo. E a menina não apenas parecia, mas sentia um medo dobrado.
Foi
então que viu os peões se reunirem, puxarem com força uma pata e finalmente
trazerem à vida o potrinho. Meg então, deu um suspiro e fechou os olhos.
O
desespero foi tanto, que a menina correu assim, como estava, com a mochila da
escola transpaçada, correu sem destino, correu entre os ramos da soja, até
encontrar-se ao chão lembrando da cena que queria esquecer. E ficou assim,
deitada.
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