quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A sociedade realmente muda? Inspirado em “Na pior em Paris e Londres” de George Orwell


Estou terminando de ler o livro do genial George Orwell, e estou apaixonada por esta leitura. Do autor, só havia lido “A revolução dos bichos”, meio que obrigada em algum ponto da faculdade. Não lembro de ter gostado tanto assim, alias, vou reler, porque não deveria estar pronta pra tamanha perspicácia. Enfim, o fato é que o “Na pior…” é um livro muito bem escrito, cheio de ironias e fortes indagações sociais.

Escrito em 1928 por Orwell, o livro retrata a pobreza bem de perto. Um jovem professor de inglês  em Paris, perde seus alunos e com isso sua pouca renda. À procura do sustento, penhora suas roupas e arruma trabalhos “escravos” nos restaurantes de Paris. Quando vai a Londres, com uma promessa de emprego, as coisas mudam e agora, ele está duro na terra da rainha. Perambulando pelas ruas, de albergue em albergue, convive de perto com os mendigos, vivendo de forma miserável.

É este ponto do livro que estou (falta pouco para acabar, mas estou com dó de ler o final, porque daí acaba rs), que me fez refletir mais fortemente sobre a imagem que o mendigo tinha e tem na sociedade. O que Orwell apresenta vindo “de dentro” é as histórias de homens que acabaram não conseguindo mais trabalhar, por diversos motivos, e agora estão vivendo sem dignidade. Pois, como ele apresenta, o trabalho dá às pessoas uma posição na sociedade e quando não se tem trabalho, fica-se à margem dela. 

Toda a rotina, a luta, o cansaço dos mendigos são retratados nas linhas de Orwell e de forma totalmente humanizada. Achei muito interessante uma cena, nas quais vários mendigos vão receber comida de uma igreja, mas sempre tem o culto religioso após a caridade, e durante este momento, os homens não se comportam, fazem questão de atrapalhar e mostrar que não estão à vontade. Orwell diz que é como se estivessem com raiva por aquelas pessoas teram ajudado. E é totalmente compreensível, se você precisa receber caridade para sobreviver, provavelmente está de mal com o mundo. “É melhor dar do que receber”. 

Outro fato no qual estava pensando hoje cedo é a forma que tais pessoas são enxergadas pela sociedade. Em 1928, Orwell faz um retrato que poderia ser feito nas ruas da Europa de hoje (ainda mais com a crise), ou de qualquer lugar do mundo. Fiquei me questionando, se de fato a sociedade não muda. Afinal, 85 anos se passaram e o relato continua atual. Cheguei a uma rasa conclusão, a sociedade pode até mudar, mas não resolve suas mazelas. O que muda ou deixa de mudar é determinado pela minoria no poder, que varre para debaixo do tapete toda e qualquer mazela social.


2 comentários:

Ana disse...

Sou apaixonada por ele!!! Mantenha o sistema, 1984, revolução dos bichos.. uma vida é pouco para tantos livros bons! ... Poucas pessoas tem uma visão tão ampla de como se joga o jogo...

Yuri disse...

Fui "obrigado" a ler "A Revolução dos Bichos" durante o ensino médio e lembro-me de que gostei bastante de toda a estória. Resumindo, não me surpreende outro grande conto deste autor. Em relação ao texto, lembro que minha ex-sogra contava suas experiências de quando trabalhou em albergues: Eu sempre me surpreendia com os tipos de pessoas que passavam por lá segundo ela... advogados, engenheiros, empresários, ex-atletas que findaram suas vidas devido ao álcool, drogas e outros excessos que o "glamour" lhes proporcionavam. Tristes realidades. Certa vez, um grande professor nos disse que quando nos deparamos com um mendigo, olhamos apenas uma vez e em seguida desviamos o olhar para não criar um vínculo; Uma espécie de defesa. Ou simplesmente ignoramos a realidade. E isso infelizmente é verdade. Não sabemos o porquê deles estarem ali; e talvez não queiramos saber por um instinto, talvez, de autopreservação. É complexo. Nós, que temos o privilégio de um teto, não temos noção de como é dormir nas ruas em meio ao lixo, animais, de como é se alimentar a céu aberto... de como nos virar com nossas necessidades fisiológicas etc. É no mínimo assustador apenas de imaginar uma situação assim. Puxando pela memória, lembrei de certa vez que fiquei até tarde com amigos longe de casa e perdi a hora do metrô. O desespero de ficar sem destino por apenas algumas horas era inquietante. Não consigo imaginar como é passar por isso todos os dias. Não sei o motivo de eu ter me aprofundado tanto nisso; talvez nunca tenha tido coragem de encarar essa realidade. Ou talvez seja um pavor profundo de me imaginar em uma situação parecida, sei lá... mas o fato é que realmente a situação atual não é muito diferente àquela há oito décadas. Lamentável.